O estudo "O Sonho Brasileiro", do Datafolha, em parceria com o Itaú, Globo e outras instituições privadas, veio em boa hora para retratar as condições ideológicas da nossa juventude, já sob o impacto de quase uma década de governo do PT, onde ela foi beneficiada pelo crescimento econômico, distribuição de renda e muitas políticas específicas.
Foram ouvidos 3.000 jovens em pesquisas qualitativas e quantitativas em cidades de quatro regiões do País. Entre as ouvidas, 47% pertencem à classe C, seguida de 33% da B e 17% das classes D e E, as camadas em mobilidade social, compostas majoritariamente por jovens e sendo que a classe C é a chamada "nova classe média".
Quanto à expressão mais política da pesquisa, os números indicam que a reforma política interessa muito à juventude, mesmo que isso não seja uma manifestação direta, e que as propostas do PT, discutidas pelas juventudes partidárias de centro-esquerda, dialogam bastante com os anseios do grupo social e são uma oportunidade para reparar uma identidade juvenil-partidária.
Dos sonhos, 31% estão relacionados à reparação social: sendo que 18% sonham com menos violência e 13% com menos corrupção. 28% estão ligados à realização: sendo que 10% desejam mais empregos para o País, outros 10% mais igualdade racial, e 8%, mais educação.
O otimismo é latente e base para o diálogo político intenso com a juventude: 89% dos jovens disseram ter orgulho do país, enquanto apenas 11% afirmaram ter vergonha. E 75% pensam que o Brasil está mudando para melhor.
O ponto nevrálgico do diálogo juvenil e geracional sobre a reforma política consiste nos últimos dados: 43% dos participantes analisam que a nação estará mais próxima da corrupção nos próximos anos do que da ética, que ficou com 38%. 92% acreditam em ações pequenas que aos poucos vão transformando a realidade das pessoas, portanto não passa de lenda de que são despolitizados ou avessos à política. Mas, é preciso apresentar novidades, pois a “Brasília política”, como denominam a “política velha”, representa signos negativos para eles, em um cenário em que 83% analisam que os políticos se afastaram da essência da atividade da política. Entretanto 59% afirmam não ter partidos políticos, logo se conclui que 41% o possuem ou simpatizam com algum. Um registro que induz a uma quadro de esperança na retomada de um diálogo e nem tão sombrio como os que lucram com a criminalização da atividade política gostariam.
Por isso, uma reforma política que tenha como pontos-chave as listas fechadas, fidelidade partidária e financiamento público de campanha deve ser abraçada pelos movimentos, entidades e organizações juvenis influenciados pelo petismo como método para re-entusiasmar a juventude com a política propriamente dita e ser o cimento político e ideológico deste processo econômico e social em curso. Isso consiste em conseguir reconstruir a crença e a confiança na democracia e seus mediadores, politizá-la através do próprio processo de politização da política, aproximar a juventude de causas coletivas e ideológicas, dar vazão a seus anseios através da participação em uma esfera pública política menos burocratizada e constrangida pelo poder econômico.
Com a ampla vitória eleitoral que sustentou a candidatura da presidenta Dilma Rousseff e sua expressão parlamentar e institucional, nunca tivemos tão grande oportunidade de realizar uma profunda transformação do Estado e da política brasileira. Dado o amplo e histórico contingente juvenil na população brasileira, uma estratégia que permeie a questão geracional é imprescindível para moldar o arcabouço institucional do país às transformações econômicas e sociais promovidas pelo PT e seus aliados, produzindo um claro projeto político na atualização do desenho e objetivos da nossa democracia. E nisso, o estímulo à transição geracional dentro do Estado Democrático de Direito, especialmente nos poderes eletivos - Executivo e Legislativo - é essencial, onde a juventude é agente renovador de agentes políticos e reoxigenação programática da democracia.
Não podemos dar vazão e deixar se consolidar o atual padrão de transição geracional, que é baseado na predominância da hereditariedade pela vinculação entre o poder econômico e político familiar na maioria das "cúpulas partidárias".
Atualmente, os jovens são hoje 40% do eleitorado, mas só elegeram 40 deputados, o que corresponde a 8% do total, enquanto a população de 15 a 29 anos é de mais de 50 milhões de brasileiros, quase 1/3 do geral. Portanto, para obter o sucesso que os Estados Unidos e Europa conquistaram explorando seu contigente ímpar de jovens nos anos 60 e 70, ou os Tigres Asiáticos nos anos 80 e 90, é preciso ir além de um grande investimento público e privado em nossos "babyboomers" e possibilitar uma verdadeira expressão política deste "bônus demográfico", para que tenha equivalência o peso social da juventude na estrutura política, incrementando ação por retornos em direitos e oportunidades por parte do poder público, necessários nesse quadrante histórico para o desenvolvimento do Brasil em todas as dimensões das relações sociais.
Assim, a adoção da reserva de vagas nas listas partidárias eleitorais, sob qualquer sistema de voto é um possível caminho a trilhar. E porque inúmeras pesquisas recentes revelam que a juventude em geral coincide seus pontos de vista com os de seus pais, por ser a família o principal ser social da formação da opinião, é de se considerar a idéia de estabelecer cota do Fundo Partidário, com destinação fixa, a exemplo dos 5% das mulheres, para atividades de formação e organização das juventudes partidárias, como celeiro de trajetórias políticas juvenis qualificadas para o exercício da vida pública.
No mesmo sentido, de pressionar pela renovação e reoxigenação da política, são razoáveis as propostas de pôr fim à reeleição ilimitada para candidaturas parlamentares às câmaras municipais, assembléias legislativas e Câmara dos Deputados, bem como o fim da idade mínima para se candidatar ao Senado.
Leopoldo Vieira é assessor da Secretaria Nacional de Juventude do PT
Nenhum comentário:
Postar um comentário